Como frisa o entusiasta Maurício Cerginer, a arte do food pairing — ou harmonização de alimentos e bebidas — vem ganhando cada vez mais adeptos, especialmente entre aqueles que desejam explorar novos sabores sem abrir mão da tradição. Em Portugal, terra rica em vinhos e sabores autênticos, essa tendência ganha um toque especial com a ousadia de combinar vinhos locais com pratos típicos considerados desafiadores, como sardinha assada e polvo à lagareiro.
Ao invés de seguir as harmonizações clássicas, o food pairing à portuguesa propõe experiências inusitadas e surpreendentes. É uma forma criativa de valorizar a riqueza da gastronomia lusa, utilizando vinhos nacionais para revelar novas camadas de sabor em pratos tradicionais. O segredo está em conhecer bem tanto os ingredientes quanto os vinhos para encontrar o equilíbrio ideal entre intensidade, acidez e textura.
Como harmonizar vinhos com sardinha assada?
A sardinha assada, prato icônico das festas populares portuguesas, possui sabor intenso, gordura natural e um toque defumado que pode dificultar a escolha do vinho ideal. Maurício Cerginer relata que muitas pessoas evitam os vinhos tintos por medo de realçar o amargor, mas existem exceções que funcionam muito bem. Um tinto jovem do Dão, leve e com boa acidez, pode cortar a gordura da sardinha e limpar o paladar, criando uma combinação saborosa e equilibrada.

Outra opção surpreendente é optar por um vinho branco do Vinho Verde, fresco e ligeiramente frisante. A acidez vibrante desse vinho ajuda a suavizar o sabor forte da sardinha, enquanto o seu caráter cítrico realça os temperos e o toque grelhado do prato. Essa harmonização mostra como o contraste, e não apenas a semelhança, pode criar uma experiência gastronômica memorável.
Que vinhos combinam com polvo à lagareiro?
Como evidencia o entendedor Maurício Cerginer, o polvo à lagareiro é um prato de sabor delicado, mas com textura marcante e bastante azeite, o que exige um vinho que equilibre untuosidade e frescor. Um branco do Douro, envelhecido em barrica, é uma escolha sofisticada: sua estrutura acompanha a textura do polvo, enquanto sua acidez equilibra o azeite generoso, sem mascarar o sabor do molusco.
Para quem prefere tintos, um Baga da Bairrada pode ser uma alternativa ousada. Embora mais encorpado, esse vinho apresenta taninos firmes e acidez pronunciada, o que o torna capaz de acompanhar a complexidade do prato. O segredo está em escolher um exemplar com algum tempo de garrafa, que tenha suavizado sua intensidade e desenvolvido notas que dialogam com os sabores do polvo.
É possível inovar sem perder a identidade portuguesa?
Com certeza! O verdadeiro espírito do food pairing à portuguesa está em respeitar os ingredientes tradicionais ao mesmo tempo em que se exploram novas possibilidades. Portugal possui uma diversidade impressionante de castas autóctones e microclimas vinícolas, o que permite criar harmonizações únicas com pratos que fazem parte da alma do país.
Inovar, nesse contexto, significa revisitar o clássico com um olhar criativo e sensorial. Maurício Cerginer informa que ao combinar um vinho do Alentejo com um prato típico de pescadores ou um espumante da Bairrada com uma receita de tacho, abrimos espaço para redescobrir sabores sob novas perspectivas. E assim a tradição portuguesa se mantém viva — reinventada, mas sempre autêntica.
É possível concluir que o food pairing à portuguesa é uma celebração da riqueza gastronômica e vinícola do país. Combinar vinhos locais com pratos inusitados, como sardinha assada ou polvo à lagareiro, é uma forma de valorizar a tradição com ousadia e sofisticação. Ao experimentar essas harmonizações, descobrimos que o equilíbrio entre sabor e criatividade pode transformar uma refeição comum numa verdadeira experiência sensorial. Afinal, o segredo está em provar, arriscar e, acima de tudo, saborear!
Autor: Antomines Adyarus